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BC faz maior aumento da juros em dez anos. Vai funcionar? Veja a avaliação de economistas

Especialistas ouvidos pelo GLOBO ficaram surpresos com a decisão da
autoridade monetária

Banco Central indicou que deve subir a Selic novamente na próxima reunião
A decisão do Banco Central (BC) de subir a taxa básica de juros, Selic, de 2%
para 2,75% nesta quarta-feira pegou boa parte dos analistas de surpresa. O
consenso é que o BC decidiria pela primeira alta desde 2015, mas que seria
mais contida, para 2,5%.
Apesar da surpresa, os economistas de mercado ouvidos pelo GLOBO
receberam bem a decisão e mesmo a indicação de que o Comitê de Política
Monetária (Copom) deve subir novamente a Selic em 0,75 pontos percentuais
na próxima reunião.
Já os representantes da indústria e do comércio criticaram, ressaltando o
impacto negativo da alta dos juros para a atividade econômica no momento
em que os casos e mortes da Covid-19 estão aumentando.Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, a decisão do Banco
Central surpreende no ritmo, mas não deve se traduzir em uma mudança
significativa do patamar já esperado pelo mercado.
A trajetória de alta, avalia, vai depender muito da resposta do câmbio. Para
que a inflação fique no centro da meta (3,75%) este ano, diz o economista, o
câmbio deveria estar em algo como R$ 4,70. Ele acredita que se o aumento da
Selic conseguir deter a alta do dólar, as críticas do setor produtivo, que
considerou a medida preciptada, serão revertidas:
— Imaginávamos, de fato, que o BC adotaria um movimento mais moderado
para ver os efeitos da pandemia, mas o caminho escolhido foi de antecipar a
alta, não de mudar o ponto terminal. Isso faz pouca diferença para a
economia. Minha impressão é que, se o BC conseguir o efeito de apreciação do
real, a decisão será vista como acertada lá na frente pelo setor produtivo.
Para Honorato, a vacinação coloca pressão positiva para a atividade se ela se
acelerar.
— A economia se abriria mais rapidamente. O Copom trabalha com o cenário
de que é transitória a atual piora da pandemia. Caso contrário, a economia
será mais fraca.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados
O economista defende a medida do Copom e estima que os juros cheguem a
5,5% no fim do ano.
— O comunicado do Copom foi mais explícito sobre o que será feito na
próxima reunião, o que é bom, tira uma nuvem de incerteza. A inflação alta
pode prejudicar mais o setor produtivo no futuro do que uma alta na Selic
agora. Se o BC não fizesse nada agora, machucaria mais a atividade
econômica quando fosse obrigado a fazer um ajuste mais drástico nos juros —
afirma.
Carlos de Freitas, chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do
Comércio (CNC)
Para entidades representativas de setores produtivos, no entanto, a alta foi
precipitada. O temor é de que o aumento dos juros agora tenha um impacto
negativo nos níveis de atividade econômica já deprimidos em meio ao pico da
pandemia.
— Parece que o Copom está precificando já uma vacinação que não ocorreu. A
economia está parada, especialmente os serviços. O BC exagerou na dose com
essa alta na Selic. Os setores de serviços estão endividados, bem como as
famílias — diz o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do
Comércio (CNC), Carlos de Freitas.
Para Freitas, o BC também erra ao sinalizar uma alta de 0,75 ponto
percentual na Selic para a próxima reunião do Copom.
— Antecipou a próxima alta, mas a autoridade monetária não tem bola de
cristal, nem o Fed (Banco Central americano) faz isso.Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria
(CNI)
A CNI também considera precipitada a decisão do Copom, uma vez que o
recrudescimento da pandemia tem levado a novas medidas restritivas que
devem reduzir a demanda e, assim, diminuir o ritmo de elevação nos preços
de bens e serviços.
— Consideramos que a decisão deveria ter sido postergada até que os efeitos
das (novas) medidas de isolamento sobre a demanda e, consequentemente,
sobre a trajetória da inflação pudessem ser avaliados — afirma o presidente
da entidade, Robson Braga de Andrade.
O aumento da taxa de juros agora, para a CNI, é um elemento adicional de
contração da demanda, o que a entidade julga desnecessário na atual
conjuntura econômica.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter
A alta de 0,75 p.p surpreendeu positivamente a economista Rafaela Vitória.
Ela avalia que a decisão foi bem embasada e técnica e deve auxiliar a sanar
uma “certa insegurança” causada pelas seguidas altas nas projeções de
inflação para este ano.
A economista ressalta também há um risco embutido nesse aumento mais
brusco dos juros para a retomada da economia, mas como o patamar está
muito baixo e a inflação vem subindo, a alta na Selic não deve impactar o
crescimento do país.
— O Banco Central tomou a decisão certa. É muito pior você desancorar as
expectativas de inflação e perder a credibilidade, nesse caso você teria que
subir (os juros) muito mais lá na frente — disse.
Silvio Paixão, professor de macroeconomia da Fipecafi
Para o professor de macroeconomia da Fipecafi Silvio Paixão, a decisão do
Copom denota uma preocupação com a inflação, mas deveria vir
acompanhada de ações que destravem a concessão de crédito na ponta.
— Essas duas altas, a de agora e a já antecipada, terão um impacto singelo
sobre a inflação de 2021, que está dada e não é uma inflação de demanda, e
sim de alta do preço das commodities. A Selic, agora, tem a pretensão de
segurar o aumento inflacionário em para 2022 — avalia Paixão.
Elisa Machado, economista da ARX Investimentos
A economista avalia que a decisão do BC foi positiva para controlar a inflação
e espera outras altas no restante do ano, até chegar a 6% no final de 2021. Ela
avalia que mesmo essas possíveis altas seguidas não vão prejudicar o
crescimento do país.
— A perspectiva de ter uma inflação descontrolada prejudica muito mais.
Você ter um Banco Central que zela pelo poder de compra, zela pela inflação,
cumpre seu mandato, é sempre positivo para o ambiente macroeconômico —
explicou Elisa.

Fonte*Portal O Globo - RJ
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